quinta-feira, 27 de agosto de 2009

ÁSIA












O levante do Irã








Como entender a maior rebelião popular iraniana desde a Revolução Islâmica de 1979

Há 30 anos não se via no Irã nada parecido com o que ocorreu na semana passada. O levante avassalador que surpreendeu o mundo em 1979 e resultou na Revolução Islâmica, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, é o único evento comparável às cenas vistas na semana passada. Marchas de protestos, com participação de milhões de iranianos, tomaram conta do país após o anúncio da vitória do presidente Mahmoud Ahmadinejad na eleição presidencial do dia 12. Estimulada por denúncias de uma fraude maciça na reeleição de Ahmadinejad, a rebelião ocorreu nas ruas, mas também com uma intensidade surpreendente na internet, por meio de redes sociais como o Facebook e o Twitter e sites como o YouTube (leia a reportagem). Os protestos dão uma dimensão das fissuras políticas na sociedade iraniana e apontam possíveis mudanças na república clerical xiita, um dos regimes mais fechados e opressores do mundo.

As consequências da crise iraniana, porém, podem atravessar as fronteiras do país. Em certa medida, a própria paz no planeta depende de seu desfecho. O Irã possui a segunda maior reserva de petróleo do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita. Com um território enorme para os padrões do Oriente Médio e uma população de 71 milhões de habitantes, o país é também o maior reduto de muçulmanos xiitas do mundo, numa região onde a estabilidade depende do equilíbrio de forças entre os dois principais ramos do islã: xiitas e sunitas. Seu governo financia grupos extremistas, como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, na Faixa de Gaza – e está num estágio avançado do programa nuclear que pode lhe dar uma bomba atômica. O presidente Mahmoud Ahmadinejad professa um islamismo ultraconservador. Já negou o Holocausto na tribuna das Nações Unidas e, por diversas vezes, demonstrou hostilidade ao Estado de Israel.

A onda de protestos no Irã começou imediatamente após a divulgação do triunfo de Ahmadinejad pela agência iraniana de notícias, apenas duas horas após o fechamento das urnas. A proclamação oficial do resultado da eleição deu 63% dos votos para Ahmadinejad, contra 33% para seu principal adversário, o ex-primeiro-ministro Mir Hossein Mousavi, um oposicionista considerado pouco carismático, mas que, ao longo da campanha, ganhou o apoio entusiasmado de reformistas, jovens e mulheres de classe média dos grandes centros urbanos. O resultado espantou, entre outros motivos, por causa da velocidade da apuração, já que a participação de quase 40 milhões de eleitores em todo o território iraniano é feita por meio de cédulas preenchidas à mão. O tempo gasto para a apuração nas disputas anteriores era de dois a três dias. Além disso, a larga vantagem obtida por Ahmadinejad contrariou as expectativas de uma diferença pequena de votos, alimentadas por uma campanha muito acirrada. Na contagem oficial, Ahmadinejad venceu com folga inclusive nas áreas em que a etnia azeri, a mesma de Mousavi, é predominante.

A apuração rápida e a vantagem larga de
Ahmadinejad levantaram as suspeitas de fraude

Mousavi acusou o governo de cometer “irregularidades em massa” e pediu nova eleição. Foi a senha para o país entrar em convulsão. Multidões nas ruas gritavam “morte ao ditador”, em repúdio a Ahmadinejad, palavra de ordem que em pouco tempo evoluiu para “morte ao aiatolá”, em referência ao líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, que ratificara rapidamente a vitória do atual presidente como uma “bênção divina”. No sistema político iraniano, o líder supremo é o comandante em chefe das Forças Armadas e controla o Judiciário, a mídia e o Conselho de Guardiães, um órgão de notáveis com poderes de vetar candidatos e supervisionar as eleições. O presidente cuida das questões administrativas e tem poderes sobre os programas de gastos e investimentos do Estado.

Aos protestos, seguiu-se a reação. As marchas com centenas de milhares de pessoas, durante toda a semana, foram seguidas de forte repressão promovida pela polícia ou por integrantes de uma milícia islâmica, a Basij, uma numerosa força paramilitar formada por voluntários à paisana. Em uma semana, centenas de políticos oposicionistas e manifestantes foram presos, jornais foram censurados, comícios foram proibidos e universidades foram fechadas. O cerco à informação começou com o bloqueio de sites e terminou com a não renovação da autorização de permanência dos jornalistas estrangeiros, o que praticamente fechou o país aos observadores. ÉPOCA obteve com exclusividade o depoimento de um jornalista que conseguiu permanecer em Teerã. Há confirmação de sete mortos nos confrontos, mas muitos acreditam que o número é irreal. No terceiro dia de protestos, o jornal britânico The Guardian já falava em pelo menos 12 mortos.

O que explica essa erupção iraniana? Grande parte dela se deve à figura de Ahmadinejad. Carismático e profundamente conservador, esse engenheiro civil de 52 anos foi eleito presidente pela primeira vez em 2005 com uma plataforma moralista, baseada no combate à corrupção e na defesa intransigente dos valores morais da Revolução Islâmica, que teriam sido abalados pelo breve período de liberalização do regime durante os mandatos de seu antecessor, Mohammad Khatami, entre 1997 e 2005. Orgulhoso de sua origem humilde, Ahmadinejad é especialmente popular junto aos habitantes das periferias das grandes cidades e das zonas rurais beneficiados por seu estilo populista de governar, que inclui generosas distribuições de dinheiro a aposentados e veteranos de guerra.

Casado, pai de três filhos, Ahmadinejad foi na juventude um fervoroso adepto da revolução de Khomeini e chegou a ser voluntário de uma das milícias Basij. Apoiado por clérigos conservadores, assumiu a prefeitura de Teerã entre 2003 e 2005. Abriu mão do salário de prefeito para viver da remuneração de professor universitário licenciado. A mesma prática foi adotada na Presidência. Ahmadinejad dispensou até o uso do palácio presidencial. Seu único imóvel particular é um pequeno apartamento herdado do pai há mais de 40 anos em Teerã. O carro é um Peugeot 504 branco ano 1977. Sua vestimenta-padrão é igualmente modesta: camisa branca sem gravata e jaqueta. Até virar presidente, Ahmadinejad nunca tinha viajado para o exterior.

Adorado pelos mais pobres, Ahmadinejad é detestado em igual medida pela crescente classe média urbana iraniana. Um dos motivos do repúdio são as restrições impostas em seu governo às mulheres e aos reformistas, que foram expurgados de universidades e da admi-nistração pública. Outra razão é uma incompetente e temerária administração das finanças do país. Com os preços do petróleo em baixa, o Irã vive uma crise econômica, com inflação alta e desemprego na casa dos 20%. Ahmadinejad é criticado também por uma distribuição de ricos contratos públicos para integrantes da Guarda Revolucionária, uma tropa de elite do regime islâmico. Por fim, a retórica externa beligerante de seu governo é vista como inconsequente em cada vez mais setores da sociedade iraniana. Uma das especialidades de Ahmadinejad é a provocação. Além de negar o Holocausto, em 2007 ele lançou uma nota de 50 mil riais (cerca de R$ 15) com um logotipo nuclear, num desafio às sanções impostas ao país por conta de seu programa de enriquecimento de urânio.

Com os preços do petróleo em baixa, o Irã vive
uma crise com inflação alta e desemprego de 20%

Por trás das mobilizações nas ruas, há também uma feroz disputa de poder entre os aiatolás que governam o Irã – alinhados ou com Ahmadinejad ou com Mousavi (lê-se mussaví). Ahmadinejad tem o apoio do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Khamenei, em tese, ficaria acima das disputas políticas, mas seu rápido reconhecimento da vitória de Ahmadinejad o colocou sob suspeita e incentivou as manifestações de rua contra ele. Do lado de Mousavi está o popular aiatolá Hossein Ali Montazeri, que foi suplantado por Khamenei na sucessão de Khomeini e vive em prisão domiciliar por causa de sua dissidência.
Reportagem extraída da revista "Época" edição 19 de Julho de 2009.


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Facismo de Novo


Anne Evelyn Cirqueira

Bem, pra quem achou que problemas com eleições, corrupção e fraude só ocorressem no Brasil e no Afeganistão, se enganou. Outro país da Ásia, onde essas situações acontecem de forma ‘escancarada’, é o Irã. Desde de 1979 não se via os iranianos tão indignados com a ‘vitória’ do presidente Mahmoud Ahmadinejad na eleição presidencial do dia 12 de junho desse ano. A revolta foi tão grande que ganhou enorme espaço na internet , nos facebooks, twitters, além de sites como youtube.

Logo após a apuração dos votos, que diga-se de passagem ocorreu muito rápido para um sistema eleitoral à base de cédulas, o protesto começou. Mas por que ganhou notabilidade mundial ? È sabido que o Irã possui a segunda maior reserva de petróleo do mundo, o equilíbrio nas relações econômicas no mundo depende da relativa paz no Irã.

O descontentamento com o governo por parte da classe média, percussora da rebelião, começa por seu presidente ser moralista e não permitir que mulheres e reformistas tenham acesso às universidades e à cargos públicos. Se não bastasse uma péssima administração das finanças do país(já que o preço do petróleo no Irã é baixo , o país vive numa terrível inflação e desemprego), de formas que é perfeitamente entendível essa revolta.

Irã é a única teocracia do mundo moderno, um país onde as estruturas de poder político e espiritual se confundem. Lá, há eleições diretas para presidente da República a cada quatro anos. Há também um Parlamento, formado por 290 legisladores eleitos, responsável por propor e aprovar leis. Mas quem detém o poder, em última instância, são líderes religiosos. Os aiatolás são os responsáveis por supervisionar as eleições e por dizer se a legislação aprovada pelo Parlamento é ou não compatível com a Sharia, a lei islâmica. Eles controlam também o Judiciário e as forças de segurança, incluindo a polícia moral, que vigia o cumprimento das regras de conduta islâmica.

Em 1977, a Anistia Internacional considerou o Irã o país de menor respeito aos direitos humanos, a despeito de concorrentes como o Chile de Augusto Pinochet. Na economia, as coisas não iam melhor, embora o Irã conhecesse, na década de 70, o esplendor de sua receita com petróleo e faturasse praticamente o dobro que o Brasil em exportações. Quase metade da receita iraniana, no entanto, era investida em armamentos e não chegava à população. A inflação atingia 50% ao ano, e a produção de alimentos experimentava uma queda provocada, entre outros motivos, por um êxodo rural maciço. Na capital, Teerã, os camponeses recém-chegados engrossavam as fileiras de desempregados, sem apoio social, de saúde ou mesmo sanitário.

Segundo o colunista da revista Época, CHRISTOPHER HITCHENS , com a matéria intitulada ‘No Irã, não há eleições, mas sim fascismo’, mostrou porque o mundo já sabe o resultado antes mesmo de haver eleições, além de que o governo ditatorial controla todos os meios de repressão e comunicação, um governo absolutista em pleno século XXI, não dá , não é ? O autor chega a mencionar que se recusa a chamar de eleição a farsa que elege representantes no Irã.

Por isso, a pergunta que deixamos é até quando nós cidadãos do mundo fecharemos os olhos à o que nossos companheiros iranianos e de outros países sofrem, por causa da falta de liberdade de expressão, voto, ação, de condições de vida, etc.Esperamos que não seja tarde demais.




Afegãos vão às urnas para escolher seu presidente pela segunda vez na história.






Eleições ocorrem em meio a ameaças do Talibã de atacar locais de votação e temor por fraudes que tirem a legitimidade do pleito


Sob a ameaça de atentados terroristas e o temor de fraudes eleitorais, milhões de afegãos vão às urnas na próxima quinta-feira (20) para escolher seu presidente pela segunda vez na história. O favorito é Hamid Karzai, o atual ocupante do cargo, que venceu a primeira eleição presidencial, em 2004, e que enfrentará a concorrência de outros 40 candidatos, entre eles seus ex-ministros Abdullah Abdullah (Exterior) e Ashraf Ghani (Finanças). O vencedor governará um país corroído por disputas étnicas, corrupção e tráfico de drogas e terá que cooperar com os Estados Unidos na luta contra a militância radical islâmica para evitar que o Afeganistão se torne um Estado completamente falido e uma grave ameaça à segurança internacional.

Além de importante para o Afeganistão, a eleição é crucial para a estratégia dos EUA. Devastado por anos de ocupação soviética (1979-89) e por uma sangrenta guerra civil que não foi resolvida até hoje, o Afeganistão se tornou a principal base de operações da Al Qaeda, de Osama bin Laden, no período em que o grupo radical Talibã assumiu o controle do país (de 1996 até a invasão americana, em 2001). Abandonar o Afeganistão agora seria o equivalente a baixar a guarda para a organização terrorista tentar repetir o 11 de Setembro. Assim, a única alternativa para os EUA é permanecer e tentar reconstruir o país.

O principal obstáculo para esta missão é o Talibã, liderado pelo recluso mulá Mohammed Omar. O grupo se fortaleceu nos últimos três anos – enquanto a administração George W. Bush concentrava suas ações no Iraque – e promete impedir a realização das eleições. Em um comunicado divulgado pela internet no fim de julho, o Talibã afirmou que qualquer pessoa que compareça à votação é um aliado dos “invasores norte-americanos”. O documento pedia ainda que centros inimigos fossem atacados e estradas bloqueadas para impedir os eleitores de participar da votação. No fim da semana passada, a intimidação aumentou. “Vocês não devem participar das eleições porque os locais de votação serão nossos alvos. Quem participar sofrerá punições severas”, dizia um documento divulgado pelo grupo na sexta-feira (14). Entre as punições, o Talibã ameaça decepar os dedos marcados com a tinta que identifica os eleitores. No sábado (15) e na terça-feira (18) o grupo terrorista demonstrou sua capacidade de penetrar mesmo as regiões mais seguras do país, realizando atentados suicidas que mataram sete e 19 pessoas, respectivamente.
A preocupação com a falta de segurança é nítida e justificada pelas estatísticas. Segundo um levantamento das Nações Unidas, o número de mortes de civis cresceu 40% entre 2007 e 2008. Em 2009, apenas no mês de julho, 76 militares da coalizão liderada pelos EUA foram mortos. É um número recorde desde que a ocupação começou, em 2001, e que supera as mortes anuais em 2002, 2003 e 2004. Na quarta-feira da semana passada (12), em um confronto dos Exércitos de EUA e Afeganistão com o Talibã, dois jornalistas da agência de notícias Associated Press ficaram gravemente feridos. Eles acompanhavam uma missão conjunta de 400 fuzileiros navais americanos e 100 soldados afegãos em Dahaneh, vila de Helmand, uma província no sul do país onde o Talibã é muito forte. A missão dos soldados, que foi repetida em diversas localidades desde o início de agosto, era “limpar” a área urbana da vila, encurralando o Talibã na zona rural, e ocupar prédios públicos para que a votação pudesse ser organizada. O trabalho não foi suficiente. Dos 7 mil locais de votação, cerca de 800 devem estar fechados no dia 20 por falta de segurança.

O terror do Talibã não é a única ameaça à eleição. Especula-se que dos 17,5 milhões eleitores registrados, três milhões sejam fantasmas. A maior parte, mulheres, já que, por motivos religiosos, elas podem se recusar a tirar fotos ou remover a burca para se identificar. O temor é de que o processo eleitoral seja tão precário que o resultado da eleição acabe contestado. Para o ex-ministro do Exterior do Paquistão Riaz Mohammad Khan, que atualmente escreve um livro sobre os efeitos para o Paquistão da guerra no Afeganistão, certamente haverá controvérsias e reclamações após as eleições. “Não é uma questão de a eleição ser 100% limpa, mas sim de ser aceitável para a maior parte das pessoas. Se a eleição tiver credibilidade para a maioria, o resultado será aceito”, diz a ÉPOCA.


Reportagem extraída do site "Revista Época" do dia 20 de agosto de 2009.


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NINGUÉM MERECE ESTAR NA SUA PELE


Anne Evelyn Cirqueira

Pela segunda vez na história os afegãos, escolherão um representante político para a nação. Ao mesmo tempo que, se computa alegria e cidadania entre os afegãos , é paradoxalmente verificado temor quanto às ameaças do Talibã de atacar locais de votação e por fraudes que tirem a legitimidade do voto, conforme publicado pela época online no 20º dia desse mês.

Dois dias antes da reportagem em questão ser publicada, aconteceu atentado terrorista, um carro bomba que explodiu perto da forças da OTAN, matou sete pessoas e deixou cinquenta feridos no ataque. Além disso, o Talibã fez questão de mandar avisos aos cidadãos para que não chegassem perto dos locais de votação, pois seriam seus próximos alvos de ataque através de bombas ou até corte do dedo usado para carimbar o atestado de votação.

O Afeganistão é um dos países mais pobres do mundo e tem vivido tamanha instabilidade nas últimas décadas, que sua economia e infra-estrutura estão em ruínas.
Um terço da população afegã deixou o país, abalado não só por guerras e conflitos internos, mas também por desastres naturais, como terremotos e secas.

É verdade que conflitos internos podem ser menos ameaçadores e nem receber cobertura da mídia internacional, mas, apesar disso, a destruição e o sofrimento causados por essas hostilidades são devastadores. Milhões já morreram em conflitos internos. De fato, nas duas últimas décadas quase cinco milhões de pessoas perderam a vida somente em três países arrasados pela guerra — o AFEGANISTÃO, a República Democrática do Congo e o Sudão.

Não é por menos que os afegãos anseiem por um governo que ao menos diminua essa insegurança tremenda. Mas o que fazer? Ficar em casa esperando que um milagre aconteça e que finalmente estejam livres desse domínio opressor, ou arriscar sua vida em prol de um governo que, esperam ,diminuir o sofrimento? E quanto à seus 43 candidatos qual escolher? Porque segundo a reportagem feita por José Antonio Lima “O vencedor governará um país corroído por disputas étnicas, corrupção e tráfico de drogas e terá que cooperar com os Estados Unidos na luta contra a militância radical islâmica para evitar que o Afeganistão se torne um Estado completamente falido e uma grave ameaça à segurança internacional”. Bem essa é uma questão para uma próxima ocasião, enquanto isso, aproveitamos nosso direito de voto livre e torcemos para que tudo ocorra bem.




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